Dia desses, na fila do supermercado, a senhora à minha frente pedia ao garoto que empacotava suas compras para que otimizasse o uso das sacolas, colocando o máximo de produtos que coubessem, com segurança, em cada uma daquelas sacolinhas de plástico reciclável. “A gente precisa fazer a nossa parte, né? Já tem muito plástico por aí”, comentou ela com a moça do caixa. A tal senhora tinha razão, reduzir o uso de plástico é uma atitude louvável diante dos desafios para preservar nosso planeta. Até por isso, seria melhor ainda ir às compras carregado suas próprias sacolas, aquelas reutilizáveis, como se fazia – e ainda se faz – nas feiras livres.
Me chamou atenção o tom simplista daquele comentário na fila do caixa, quase uma insinuação de que a sustentabilidade pode ser construída por ações isoladas. Claro que esta é apenas a minha interpretação, e posso até estar errado, mas pelas inúmeras vezes em que já ouvi algo parecido, é pouco provável. Preservar o planeta não é questão de consciência tranquila, é compromisso, obrigação, sobrevivência. Toda iniciativa é valiosa, mas dá para ir além e inserir esse valor da preservação ambiental em tudo o que fazemos. E para ser de verdade, precisa ser um reflexo do nosso comportamento, de nossas atitudes como um todo.
Recentemente me deparei com um veículo elétrico no intenso trânsito da Rua da Consolação, uma das vias mais movimentadas da capital paulista. Fiquei curioso, pois o carro estava todo adesivado e nem placa tinha (atenção para esta informação). Era um item de demonstração de um lançamento. Fui observando-o e já pensando nas várias perguntas que gostaria de fazer, imaginando mesmo uma reportagem sobre o tema. Eis que outro fator se destacou: a forma perigosa como o motorista dirigia, mudando de faixas freneticamente, quase sempre sem sinalizar, jogando o sustentável veículo à frente dos outros como se não houvesse amanhã. O anonimato pela ausência das placas pode ter sido um incentivo. Ou seja, pelo suposto ponto de vista daquele sujeito, evitar combustíveis fósseis, tudo bem, agora a segurança no trânsito, cada um que cuide da sua.
Nós fazemos a sustentabilidade. Nós somos a sustentabilidade. Sendo eu um cidadão urbano, nascido e crescido na periferia paulistana, me sinto privilegiado por poder conhecer de perto e acompanhar diversas mudanças no campo, nas cadeias agropecuárias, para reduzir os impactos ambientais e otimizar os recursos naturais. Principalmente quando essas iniciativas envolvem diversos integrantes do agronegócio, em um processo que vai desde as fazendas até o consumidor final. Como o projeto que reuniu a indústria têxtil, o setor da moda e os produtores de algodão para descobrir que são necessários 5.196 litros de água para a fabricar uma calça jeans. E a partir desse dado investigar possíveis caminhos para reduzi-lo. Há também a difusão do manejo florestal sustentável em Mato Grosso, por exemplo, que permite a exploração comercial da madeira sem devastar as matas; a expansão do sistema agroflorestal em diversos pontos do Pará, com resultados impactantes – econômicos e sociais – pela integração de culturas diversas com as árvores nativas; e a pecuária de baixo carbono, com um manejo de pastagem para a produção de carne e leite que além de reduzir os índices de emissão de CO2, ainda favorece seu estoque no solo.
Isso tudo só se faz com ciência, pesquisa, investigação, (muita) informação, persistência, propósito, retorno financeiro, comprometimento e responsabilidade – de todos os envolvidos. Esse conjunto de fatores tem sido posto à prova nos últimos meses, e com desafios ambientais pra lá de complicados, a exemplo dos incêndios ocorridos em agosto, em Novo Progresso, no Pará – o tal “Dia do Fogo”, ainda sob investigação da Polícia Federal, e as manchas de óleo que se espalharam por quase todo o litoral nordestino. Nos dois casos, paralelo à dedicação de quem se pôs na linha de frente do combate às próprias tragédias, testemunhamos um enorme desperdício de energia com especulações e insinuações, quando, na verdade, todos os esforços deveriam ser direcionados à busca por respostas concretas e soluções. Em tempo, representantes de governo têm uma missão importantíssima de tranquilizar a sociedade em situações como essas, trazendo luz às discussões, aos debates, mostrando ações e resultados. Fazer todo o possível para resolver os problemas é nada mais que o mínimo esperado de quem nos representa. Ainda há muito a ser feito.